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Meditar não é perseguir uma ideia, mas compreender e transcender o pensamento e o sentimento. A meditação é o ingresso no desconhecido.
Inteligência não é inventividade, memória, ou mero exercício verbal. É muito mais do que isso. Por bem informados e talentosos que sejamos, em certo aspecto da existência, somos ignorantes em outros sentidos. A acumulação de conhecimentos não reflecte, necessariamente, uma mente inteligente. Tão-pouco a capacidade e o talento. Mas a sensível percepção da vida, dos seus problemas, das suas contradições, das suas aflicções e alegrias, revela sabedoria. Estar consciente de tudo isto, sem opção, sem ser tragado pela complexidade das questões vitais, sem resistir ao fluxo avassalador da vida, é ser inteligente. Implica também não depender das circunstâncias e, portanto, estar apto a compreender e a libertar-se da influência e das condições ambientais. Nas suas camadas mais superficiais e profundas, a consciência é prisioneira do tempo. Mas a inteligência supera todas as barreiras, livre de qualquer objectivo de ganho individual ou colectivo. Ela nasce do aniquilamento, da acção revolucionária que desmistifica o reformismo, sem o que toda a transformação é mera continuidade modificada. A capacidade de destruir o passado psicológico é a essência da inteligência, cuja falta traz sofrimento na acção. O sofrimento é a negação da inteligência.
A ignorância vem da ausência de auto-compreensão, esse aprender sem fim. Não nos referimos à acumulação do saber, que gera inevitavelmente o núcleo ou o centro do conhecimento, da experiência; nesse processo acumulativo, no sentido positivo ou negativo, não existe lugar para a lucidez. Da compreensão do pensar e do sentir, ao cessarem a resistência e o desejo de mais, surge o autoconhecimento e a inteligência. O autoconhecimento, como acção do presente, difere da auto-crítica exercida pelo centro oriundo da experiência e do saber, em que o passado, vindo à tona, impede a compreensão do presente. Investigando a nós mesmos, criamos inteligência.
Krishnamurti, Diário de Krishnamurti