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(...) Amar não é sofrer nem se debater no ciúme; é perigoso o amor que destrói, que aniquila as coisas construídas pelo homem, excepto os tijolos. Incapaz de erigir templos ou de reformar a podre sociedade, só por si o amor nada pode fazer; mas, sem ele, nada será feito. A automatização e os computadores podem alterar o rumo dos acontecimentos e proporcionar ao homem mais horas de lazer; e isso só irá aumentar o número de problemas que já o atormentam. O amor não acarreta problemas e é por isso que é tão perigoso amar. O homem vive de problemas, de questões intermináveis e sem solução; sem eles, não saberia o que fazer e sentir-se-ia perdido e lesado. Portanto, os problemas multiplicam-se sem cessar; ao resolver um deles, surge logo um outro e assim sucessivamente até sobrevir-lhe a morte e esta, é claro, a própria destruição; mas isto não é o amor. Com a morte, surge a velhice, a doença e uma série de problemas, que nenhum computador pode resolver. A destruição e a morte que daí advém diferem daquilo que surge com o amor. São meras cinzas de uma chama artificial ou o ruído de máquinas automáticas que funcionam sem parar. Não se pode separar o amor da morte e da criação; é impossível optar por um em detrimento dos outros; não podemos encontrá-lo no mercado ou na igreja, locais em que normalmente supomos consegui-lo. Mas, se não o procurarmos, se formos totalmente livres de problemas, pode ser, então, que desponte o amor.
Krishnamurti, Diário de Krishnamurti