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Foi só ao acordarmos, bem cedo na manhã seguinte, que nos cientificámos do esplendor da noite anterior e do amor que ela suscitou. A consciência não pode conter a imensidão da inocência; está apta a recebê-la, mas não pode buscá-la nem cultivá-la. A totalidade da consciência tem de aquietar-se, cessando todo o desejo e busca. Aquilo que não tem começo nem fim surge quando a consciência se silencia. Meditar é esvaziar a consciência, não com o intuito de receber, mas para despojar-se de toda a finalidade. É preciso haver espaço para o silêncio, não o espaço criado pelo pensamento e suas atividades, mas aquele que vem através da negação e da destruição, quando nada mais resta do pensamento e de suas projeções. Só no vazio ocorre a criação.
Ao acordarmos cedo, esta manhã, a beleza daquela força, com sua inocência, alojada no fundo do nosso ser, emergia à superfície da mente. Sua infinita flexibilidade a tornava imune a qualquer tentativa de moldá-la; não se ajustaria nem se conformaria ao padrão imposto pelo homem. Não seria aprisionada por símbolos ou palavras. Mas, ali estava, imensa, intocável. Qualquer meditação parecia, então, fútil e tola. Só ela estava presente, e a mente tranquila.
Várias vezes durante o dia, de modo imprevisível, aquela bênção surgia e se desvanecia, tornando inúteis desejos e súplicas.
Krishnamurti, Diário de Krishnamurti