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Todo o pensamento e sentimento deve florescer para que se complete o ciclo da vida e da morte; é preciso que tudo em nós floresça: a ambição, a avidez, o ódio, o regozijo, a paixão, para que do seu findar surja a redenção. Somente em liberdade pode alguma coisa vicejar, jamais na repressão, no controle e na disciplina, base de toda a corrupção e perversão. 0 florescimento e a liberdade constituem a essência da bondade e da virtude. Não é fácil, por exemplo, deixar florescer a inveja; em geral, a condenamos ou a exaltamos, mas nunca a deixamos crescer livremente. E a liberdade é fundamental para que o facto da inveja se revele em toda a sua plenitude, expondo as subtis variações da sua forma, da sua intensidade e de quanto a caracterize. Em clima de repressão, a inveja dificilmente virá à luz. Mas, ao se expor dá-se a sua natural extinção; e ao desaparecer a inveja nós nos defrontamos com o facto do vazio, da solidão e do medo. À medida que cada um desses factos floresce em liberdade, cessa o conflito entre o observador e a coisa observada; ao desaparecer o censor, resta unicamente o acto de observar e ver. A liberdade nasce da acção total, jamais da repetição, da repressão, ou da sujeição a um dado padrão de pensamento. E só existe a perfeição da completa integridade no florescer e no morrer; se uma coisa não terminar, nunca poderá florescer. Aquilo que tem continuidade é o pensamento através do tempo. Ao florescer, o pensamento deixa de existir, pois é somente na morte que surge o novo. Para que o novo surja é preciso que cesse todo o conhecido. O novo não nasce do pensamento, do que é velho; ele deve morrer para que desponte o novo. Tudo o que floresce deve necessariamente findar.
Krishnamurti, Diário de Krishnamurti