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Os limites da consciência são anulados pela meditação; ela destrói o processo do pensar e sentir, urdido pelo pensamento. O método, a recompensa e as promessas deformam e debilitam aquela força misteriosa. Abundante energia é libertada pela meditação, mas ela é deformada e destruída mediante o controle, a disciplina e a repressão. A meditação é a chama que arde sem formar cinzas. As palavras, o sentimento, o pensamento, sempre deixam resíduos e o mundo vive das cinzas do passado. Meditar é viver em perigo, pois nada escapa àquela destruição, nem mesmo o mais leve frémito do desejo; e é da amplidão insondável desse vazio que surgem o amor e a criação.
A mutação da consciência não vem através da análise. É impossível transformá-la através do esforço, que gera o conflito, e que, portanto, fortalece o núcleo da consciência. Por mais lógico e equilibrado que seja, o raciocínio não conduz à libertação da consciência, pois é uma ideia formada pela influência, experiência e conhecimento, todos produtos da própria consciência. Constatar a falsidade dessas ideias e conceitos com a consequente rejeição do falso torna a consciência vazia. A verdade não tem oposto, tão-pouco o amor; a verdade surge da rejeição dos opostos. A autêntica rejeição não nasce da esperança ou da ânsia de realização. Livre do desejo de reconhecimento, a renúncia não admite recompensa ou barganha. Libertar-se da tradição é negar o falso conceito dos opostos, a falsa autoridade do ajustamento, do conformismo, da imitação, da experiência e do conhecimento.
Negar é estar só, livre de influência, da tradição, da carência psicológica, do apego, da dependência. Estar só é negar o condicionamento e o passado conteúdo da consciência. Observar sem discriminar e a renúncia ao condicionamento conduzem à solidão, que não é isolamento ou actividade egocêntrica. Tão-pouco significa a fuga da existência. Pelo contrário, é a libertação total do sofrimento e do conflito, do medo e da morte. Esta solidão é a própria mutação da consciência, a completa transformação daquilo que foi. Ela é o vazio e a ausência do ser e do não-ser. A mente se renova, a cada instante, na chama desse vazio. Apenas à mente vulnerável é acessível o infinito, em que da destruição surge o novo, a criação e o amor.
Krishnamurti, Diário de Krishnamurti