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Existe um conhecimento que retira peso e alcance ao que fazemos: para ele, tudo está desprovido de fundamento, à excepção de si mesmo. Puro no ponto de abominar a própria ideia de objectivo, ele traduz essa sabedoria extrema segundo a qual é indiferente praticar ou não praticar um acto, e que se faz acompanhar por uma satisfação também ela extrema: a de poder repetir, em todas as circunstâncias, que nenhum gesto que façamos justifica a nossa adesão a ele, que nada é valorizado por qualquer vestígio de substância, que a «realidade» é da alçada da insensatez. Um tal conhecimento mereceria ser chamado de póstumo; ele actua como se o conhecedor estivesse e não estivesse vivo, simultaneamente ser e recordação de ter sido. «É já passado», diz ele de tudo o que realiza, no próprio instante do acto, que deste modo fica para sempre destituído de presente.
E. M. Cioran, O Inconveniente de Ter Nascido
(...)
Oh, sim! A ideia tal todo me voto:
É da sapiência a derradeira máxima:
Que só da liberdade e vida é digno
Quem cada dia conquistá-las deve!
(...)
Goethe, Fausto
Não fiz mais que através passar do mundo,
Cada apetite, sem parar, fartando;
O que me não bastava, abandonando;
Do que escapava não fazia fundo.
Desejei, consegui; de novo ardia
O desejo, e assim com energia
A vida em turbilhão corri; potente
Outrora, hoje moroso, hoje prudente.
Esta terrena esfera bem conheço.
E a vista além dela acha tropeço.
Néscio, quem turvos olhos lá põe mais
E sobre as nuvens sonha ter iguais!
Firme na terra, atente bem em tudo:
Não é, para quem pensa, o globo mudo!
Que ganha em divagar na eternidade?
Aqui, palpa e conhece a realidade.
Pise pois este solo o caminhante!
Se larvas o turvarem, siga avante!
Não progredir terá gozo e tormento;
Satisfação, porém, nem um momento!
Goethe, Fausto
(...) Sem ter primeiro errado,
A perfeita consciência não atinges!
Se a existência cobiças, teu esforço
Próprio a conquiste!
Goethe, Fausto
Quem pode em aliados ter confiança?!
Qual encanado líquido, cortados
Os subsídios estão que prometeram.
Também, Senhor, em teus vastos domínios
A que mãos foi parar a propriedade?
Onde quer que chegamos, i assento
Um homem novo fez, independente
Declara-se e olhar devemos quedos
O que lhe apraz fazer: tantos direitos
Temos ido cedendo, que não resta
A que tenhamos jus cousa nenhuma.
Nem possível é hoje fazer conta
Do que chamam partidos; quer censurem,
Quer louvem, indiferentes se tornaram
Amor e aversão. Por ter descanso,
Gibelinos e Guelfos se esconderam.
Já ninguém ao vizinho auxílio presta,
Para cuidar de si não sobra tempo.
Ferrolhadas do ouro estão as portas,
Tudo escava, entresoura e amontoa;
As nossas arcas, deixam-nas vazias.
Goethe, Fausto
(...)
Quando ao nascer a árvore verdeja,
Conhece o hortelão que flor e fruto
Em seus anos futuros há-de dar-lhe.
Goethe, Fausto
(...)
O tempo que gastais em cumprimentos
Pode em cousa mais útil empregar-se.
Falar de inspiração pouco aproveita,
Nunca ao homem que hesita ela se mostra.
(...)
(...) Não se cumpre
Amanhã o que hoje não for feito,
E nem um dia só perder se deve.
Um homem resoluto, do possível
Lança mão com ardor, fugir não o deixa
E na empresa prossegue, assim lhe é força.
(...)
Goethe, Fausto
(...)
O que só brilho tem, dura um instante
O verdadeiro belo ao porvir chega.
Goethe, Fausto