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(...) Amar não é sofrer nem se debater no ciúme; é perigoso o amor que destrói, que aniquila as coisas construídas pelo homem, excepto os tijolos. Incapaz de erigir templos ou de reformar a podre sociedade, só por si o amor nada pode fazer; mas, sem ele, nada será feito. A automatização e os computadores podem alterar o rumo dos acontecimentos e proporcionar ao homem mais horas de lazer; e isso só irá aumentar o número de problemas que já o atormentam. O amor não acarreta problemas e é por isso que é tão perigoso amar. O homem vive de problemas, de questões intermináveis e sem solução; sem eles, não saberia o que fazer e sentir-se-ia perdido e lesado. Portanto, os problemas multiplicam-se sem cessar; ao resolver um deles, surge logo um outro e assim sucessivamente até sobrevir-lhe a morte e esta, é claro, a própria destruição; mas isto não é o amor. Com a morte, surge a velhice, a doença e uma série de problemas, que nenhum computador pode resolver. A destruição e a morte que daí advém diferem daquilo que surge com o amor. São meras cinzas de uma chama artificial ou o ruído de máquinas automáticas que funcionam sem parar. Não se pode separar o amor da morte e da criação; é impossível optar por um em detrimento dos outros; não podemos encontrá-lo no mercado ou na igreja, locais em que normalmente supomos consegui-lo. Mas, se não o procurarmos, se formos totalmente livres de problemas, pode ser, então, que desponte o amor.
Krishnamurti, Diário de Krishnamurti
... Estranho e penetrante silêncio perpassava-nos o ser; isento de qualquer onda de movimento, ao caminharmos, dele fazíamos parte, sentíamos a sua presença a ponto de respirá-lo. Não que aquilo fosse um truque mental, não que o experimentássemos, mas o silêncio simplesmente existia e nós pertencíamos a ele. 0 pensamento apto a experimentar, lembrar, acumular, estava ausente. Não estávamos dele separados para observar e analisar. Era só o que existia, e nada mais. Cronologicamente, o tempo havia passado e já era tarde; o milagre do silêncio estendeu-se por cerca de meia hora, mas isto nada significava, pois o tempo não existia. E foi com ele que retornámos à penumbra do quarto, passando pelo antigo poço, pela aldeia e pela estreita ponte. Juntarnente com o silêncio veio aquela coisa singular e poderosa. O amor não é a palavra nem o sentimento; ele estava lá com a inabalável força e a fragilidade de um broto de árvore, facilmente destrutível. (...)
Krishnamurti, Diário de Krishnamurti