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25 de Novembro

25.11.21

(...) Lá estava o intenso e profundo fulgor do iminente clarão daquela coisa desconhecida, de incorruptível força e pureza. O que era belo atingiu o auge do esplendor, glorificando tudo e se desfazendo em êxtase e riso, que não só penetrava no âmago do nosso ser, mas também se espalhava por entre as palmeiras e o arrozal. Ainda que raro, o amor estava presente naquela cabana, à luz do candeeiro; e havia amor na mulher envelhecida com a sua carga pesada sobre a cabeça, no menino nu que fingia soltar fogos de artificio ao balançar um pequenino pedaço de madeira faiscante na ponta de um barbante. O amor estava em toda a parte, tão abundante que se podia surpreendê-lo sob a folha seca caída ao chão, ou entre as folhas do jasmineiro, ao lado da casa em ruínas. Mas, estavam todos ocupados, absortos nos seus afazeres e perdidos nos seus problemas. Aquele êxtase transbordava do coração, enchia a mente e preenchia o espaço celestial, sem jamais nos abandonar. Porém, seria preciso morrer para todas as coisas, sem derramar lágrimas e sem nutrir remorsos. Somente, então, com alguma sorte e se tivéssemos cessado de buscá-lo, entre esperançosos, súplices ou queixosos, o êxtase viria a nós sem ser chamado. Livres do apego, livres da infelicidade e do pensamento, seríamos capazes de percebê-lo ali, sobre aquela estrada escura e poeirenta.

A meditação floresce na bondade. Sem ser a virtude, cujo lento cultivo exige tempo, sem exprimir a respeitabilidade social e sem representar a chancela da autoridade, a beleza da meditação é o perfume do seu desabrochar. Como poderá haver alegria na meditação, se ela provém do desejo e do sofrimento? Como poderá florir, se a estivermos buscando através do controle, da repressão e do sacrifício? Como poderá desabrochar das sombras do medo ou na venal ambição e desejo de fama? Como poderá florescer à sombra da esperança e do desespero? Tudo isso tem de ser abandonado de maneira espontânea, natural e sem remorsos. A meditação não pretende levantar muros de defesa e resistência para, em seguida, fenecer; tão-pouco foi ela talhada segundo um método ou sistema. Qualquer sistema padroniza o pensamento e o conformismo impede o florescer da meditação. Para que ela desabroche é preciso haver liberdade e a morte daquilo que é. Sem liberdade não há auto-conhecimento e sem o auto-conhecimento não existe a meditação. Por mais longe que o pensamento alcance, na sua busca de conhecimentos, ele continua estreito e medíocre. A meditação não está no processo aquisitivo e expansivo do saber. Ela viceja em total liberdade, e fenece no conhecido.

Krishnamurti, Diário de Krishnamurti

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