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É estranho como ninguém jamais diz: “não sei”. Para que possamos realmente dizer e sentir isto é preciso haver humildade; mas ninguém admite o facto de nada saber. É a vaidade que busca o conhecimento. Estranha doença esta que nos faz oscilar entre a esperança e o desalento. Porém, ao reconhecermos a nossa ignorância a respeito de alguma coisa, interrompemos o processo mecânico do saber. Existem inúmeras maneiras de se dizer: “não sei” ; uma delas vem do desejo de alcançar o poder e a fama, mediante o emprego de métodos subtis e fraudulentos; dizemos também “não sei” quando queremos ganhar tempo para descobrir algo ou, então, quando não sabemos e não temos a preocupação de chegar a algum ponto. Aquele que adopta o primeiro caminho jamais aprende, pois só é capaz de acumular conhecimentos; ao adoptar o segundo, porém, ele se acha em permanente estado de aprendizagem. É necessário haver liberdade no aprender para que a mente se conserve jovem e pura; toda a forma de acumulação faz com que a mente feneça na decadência e na senilidade. Não é a inexperiência a marca da pureza, senão o facto de estar livre da experiência; para tanto é preciso morrer para qualquer tipo de experiência, a fim de que ela não crie raízes no fértil solo do cérebro. A experiência faz parte da vida, mas esta não pode florescer num solo repleto de raízes. A humildade, porém, não vem com o abandono consciente do conhecido, pois este decorre da vaidade da realização; a humildade é o estado do não saber, oriundo do constante findar. O medo da morte vem sempre do saber, jamais do não saber. Impossível temer o desconhecido; só existe o medo na mudança ou no término do conhecido.
O hábito da palavra, o seu conteúdo emocional, os seus diferentes sentidos nos escravizam a ela, às conclusões e às ideias. Vivendo de palavras, o homem torna-se insaciável na sua fome interior, o que o impele a cavar incessantemente, sem jamais colher frutos. Passa, então, a viver no mundo da irrealidade, do faz-de-conta, do inútil sofrimento. Toda a crença é mero verbalismo, uma conclusão do pensamento, um conjunto de palavras que corrompe e avilta a beleza espiritual. Destruir a palavra é o mesmo que demolir a estrutura interna da busca de segurança, que é sempre vã. O auge do sentimento de segurança nasce daquele estado de insegurança, bem diferente da súbita e violenta privação de segurança, origem de inúmeros estados patológicos; viver na insegurança é ter a força da humildade e da inocência, inacessível aos arrogantes.
Krishnamurti, Diário de Krishnamurti