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Hesitar sempre foi um projecto de vida para alguns. Ser capaz de continuar a hesitar até ao fim, eis o difícil. Por vezes, um homem chega a meio da vida e desata a correr como se soubesse para onde vai. Outros não o fazem, e a sabedoria é isto: no momento da partida excitante e rápida pára-se para apertar os atacadores. Hesita-se por falta de equipamento para a decisão. Não estou equipado para a prática desportiva da decisão. Eis, pois, que digo simpaticamente: ganhe você, por favor. O que de certa maneira é isto: eu não tenho tempo para ganhar, estou tão ocupado a hesitar que aqui fico, em redor de nada, de modo a ter uma referência negativa. Quando vir qualquer coisa que me excite devo virar-lhe as costas; quando me estiver a entediar, é aí que eu fico. O meu nome só deve ser conhecido pelo moribundo. Que vai para falar e cala-se, que vai para respirar e não consegue, vai o seu coração para bater e fica suspenso - e como não bate, o momento seguinte não chega e o corpo inteiro morre, como se todos os convidados combinassem sair ao mesmo tempo de uma festa demasiado ruidosa -, mas, se todos os que faziam ruído saem ao mesmo tempo, a festa ruidosa, lá dentro, fica uma festa em silêncio e nada. E é lá para fora que vai o ruído. Porém, a diferença talvez seja esta: lá fora os convidados estão rodeados de mundo que, apesar de tudo, é mais largo e mais distraído do que uma sala individual. Vou fazer barulho para o meio do mundo, isto é: vou fazer silêncio (porque o mundo é grande e ruidoso).
Gonçalo M. Tavares, Matteo Perdeu o Emprego