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O que são sete homens racionais num barco? Isto: sete razões num barco, sete potenciais conflitos, sete armas, sete argumentos, sete tensões, sete arcos e sete flechas, sete formas de ameaçar o que está em redor, sete modos de defesa; enfim, sete mortes, sete assassinos em potência.
Mas a entrada no pensamento dos outros é também isto: deixar que o corpo do outro ocupe o espaço que o nosso corpo ocupa neste momento. De certa maneira, isto: se concordo contigo, cedo o meu espaço.
Os sete homens no barco, porque têm o espaço limitado e em redor água e afogamento, têm isto muito claro. Não posso concordar contigo, não tenho espaço para concordar contigo, não tenho metros quadrados para poder concordar contigo; não sou, no limite, um proprietário suficientemente rico para te poder ceder a mina razão. Porque dar razão ao outro é isso mesmo, literalmente: é dar a sua razão ao outro, é oferecer a sua razão como o derrotado oferece a sua cabeça para que o vencedor decida do seu destino.
Corto a cabeça da razão, que me ofereceste, ou sou magnânimo? É evidente que os sete homens no barco não têm tempo para a compaixão. A compaixão requer um tempo que se aproxima da sensação de imortalidade. Posso ser bom para os outros porque terei ainda tempo para ser bom para mim próprio.
Gonçalo M. Tavares, Matteo Perdeu o Emprego