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Por vezes é um bom exercício: pensar o mundo como um colectivo cheio de tiques (...) E aos tiques do mundo poderemos chamar hábitos ou convenções; os tiques de uma cidade, eis o que um contabilista urbano, um bom observador sociológico, pode e deve procurar. E tiques urbanos, tiques sociais, são isso mesmo, tiques - ou seja, gestos involuntários, sem função. Gestos inúteis, gastos de energia. Quantos tiques tem uma cidade?, quanta energia é atirada para o lado oposto ao do alvo?
E, se quisermos, uma cidade, um colectivo, tem também essa copropraxia, essa maneira involuntária de insultar os outros, de os maltratar. Eis o que o médico de uma cidade pode e deve fazer (um médico-urbanista): (...) dar uma medicação para os tiques, ensinar processos gestuais e mentais que permitam controlar esses gestos irreflectidos e, acima de tudo, tentar diminuir a agressividade do colectivo; a cidade (...) não pára de nos insultar sem razão alguma. Perdoamos porque já nos foi explicada a sua doença. Copropraxia, eis a doença das grandes cidades.
Gonçalo M. Tavares, Matteo Perdeu o Emprego