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Nunca sabemos se ao Outro fazemos o bem ou o mal. Podemos beber estoicismos, como por aqui nos últimos dias se tem vertido pela voz do imperador-filósofo: bom sumo de madura fruta. Podemos meditar frequente e amplamente. Podemos nos pendurar em vários ramos na árvore da nossa experiência, quer da curta que é a nossa vida e estada, quer na da humanidade, que é de todos e infinda estrada. Podemos exaustivamente nos examinar. Podemos apenas o que de vulgo sói dizer-se seguir o coração. Podemos achar (ou querer achar) que estamos seguindo na senda da correcção, com lúcida razão, que são as nossas intenções e motivações boas, belas ou sãs. Mas, na verdade, nunca sabemos… se fazemos o mal ou o bem, se o fazemos bem ou mal. Se sabemos o que nos vai nos confins da alma (o que nem sempre é certo), dificilmente saberemos a leitura feita pela alma alheia – a menos que ela, sabendo precisamente o que nela vai, no-lo diga; e, dizendo ela, acreditemos nós por inteiro.
Do Outro desconhecemos a sua vida (e via) interna, os seus mecanismos mentais, as feridas que carrega, as doenças de que padece e delas se alguma – ou todas - projecta, os anseios que o governam, a realidade em que está ou cria, a sua verdade, o entendimento que tem, as sombras e luzes que o visitam, a consciência que o habita… Não nos doa a nós a cabeça de tanto em tudo pensar… No trato com o Outro, resta-nos crer, talvez, na Alma ela-mesma (talvez fosse mais correcto dizer-se Espírito), tentando procurar (e ver) em nós e Nele a pureza essencial. E esperar então que essa tal Alma-mesma, povoando os seres, presumindo-se conhecedora de verdades e mistérios, e sabendo tudo ler, nos envie uma proposta de resposta, em silêncio e em forma de (pres)sentir… não raro falada pelo vento.