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… mas não sejamos demasiadamente duros para com o maquinal homem da massa. Não é grande, a sua culpa. Apenas viceja e refocila, sem razão, desde a infância, no condicionamento que recebeu, sem dele se conseguir livrar. Não tendo culpa de se apegar desde o berço, deve ter contudo obrigação de por si pensar e agir, livre do mundo que o ensinou a ser controlado (e controlador), ambicionando mais ser o que todos são em vez de se descobrir. Olhar firme, demorada e conscientemente para o conquistador de plástico que é, agarrado como lapa à rocha em erosão do reconhecimento, gritando fama em qualquer beco ou vão de escada, julgando, febrilmente insano e psicologicamente descompensado, que bens materiais, infindos divertimentos vãos e orgíaco sexo avulso o transportam para os paraísos da felicidade. Muito rico que seja, é pobre. E coitado. Por muito sucesso que tenha, será sempre filho órfão da Graça. Mas da Verdade, a leste quer estar. Avidez, cobiça, desonestidade, hipocrisia, manipulação, mentira, egoísmo, dissimulação, agressividade, violência, poder miúdo, competição: eis o seu parco léxico, consultado no dicionário da sua ignorante desatenção. Desde a infância, se disse, e criança há-de morrer. Não tem força, não sabe lutar, mas na imagem que em si cultiva no confinado ginásio da vida, se tem, um tanto irracionalmente, por inteligente, um espertalhão. A educação que recebe, mais sem efeito do que com, é hoje, talvez mais do que nunca, assente na formatação, um decorar e memorizar inconsequente, contínuo, nauseante, alienante, em nada contribuindo para a formação de espíritos livres, questionadores, mentalmente activos. Tudo é forçado. Tudo é esforço: um esforço que na verdade enfraquece. E pela vida vai rastejando, como pode, como consegue, em busca do que o vizinho, revista ou televisão lhe mostra ser… o que deve querer, como deve ser, como se safar no meio da multidão que (ele próprio) engrossa. É uma papa tudo o que come (e que voraz estômago tem!), já sem a audácia, irreverência, vitalidade e verdadeira inteligência intuitiva presente nos primeiros anos da sua humana condição. Sim, sejamos um pouco mais justos. O que precisa o imberbe homem da massa não é de bordoada nem chibata: urge alguma doce e salutar educação.