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Todos nós nascemos na Arcádia, todos viemos ao mundo cheios de pretensões de felicidade e prazer, e conservamos a insensata esperança de fazê-las valer, até o momento em que o destino nos aferra bruscamente e nos mostra que nada é nosso, mas tudo é dele, uma vez que ele detém um direito incontestável não apenas sobre as nossas posses e os nossos ganhos, mas também sobre nossos braços e nossas pernas, nossos olhos e nossos ouvidos, e até mesmo sobre o nosso nariz no centro do rosto. A experiência vem em seguida e ensina-nos que a felicidade e o prazer não passam de uma quimera, mostrada à distância por uma ilusão, enquanto o sofrimento e a dor são reais e manifestam-se directamente por si só, sem a necessidade da ilusão e da espera. Se o seu ensinamento se mostra frutífero, deixamos de buscar a felicidade e o prazer e passamos a nos preocupar apenas em fugir ao máximo do sofrimento e da dor. [“O homem sábio não persegue o que é agradável, mas a ausência da dor”, cf. Aristóteles, Ética a Nicómaco, VII, 12, 1152 b 15-16]. Reconhecemos que o melhor que o mundo nos pode oferecer é um presente suportável, tranquilo e sem dor; se isso nos é dado, sabemos apreciá-lo e cuidamos bem para não estragá-lo ansiando sem trégua alegrias imaginárias ou preocupando-nos temerosos com o futuro sempre incerto que, a despeito dos nossos esforços, depende totalmente do destino. Além disso: por que haveria de ser insensato preocupar-se sempre em usufruir ao máximo o presente único e seguro, se a vida inteira não passa de um fragmento maior do presente e como tal é absolutamente efémera?
Arthur Schopenhauer, A Arte de Ser Feliz