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Há certamente um «totalitarismo» próprio das «sociedades de controlo» (Foucault, Deleuze) actuais. A aplicação das novas tecnologias a todo o tipo de serviços, por exemplo, implica o imperativo de cumprir os regulamentos, sob pena de exclusão. A globalização acentua e generaliza este tipo de padrões únicos de comportamento – na necessidade de responder às exigências da produtividade do trabalho, de seguir as vias impostas pela funcionalidade dos serviços de saúde, de educação, de lazares. Um exemplo emblemático já utilizado em Portugal, nos serviços prisionais, a pulseira magnética de localização a distância que o prisioneiro levará consigo sempre que se ausente da prisão. (Em breve seremos todos prisioneiros em liberdade, controlados a distância). O cidadão só pode submeter-se e aderir, em nome da lógica funcional do sistema de regulamentação da vida social, pública e privada. Caso contrário, surge, automaticamente também, a ameaça de exclusão.
A exclusão, neste tipo de regime que tende a controlar o conjunto dos comportamentos do indivíduo, não significa apenas tal ou tal efeito determinado (como o desemprego), mas atinge todos os aspectos da vida individual. O regulamento estipula que se corte a água, quando não se paga a conta nas datas fixadas. Mas quem já não pode pagar a água está na iminência de não poder pagar a electricidade, a renda, a escola das crianças, os transportes, a alimentação. Exige-se uma integração tão completa do indivíduo, que o mínimo desvio é sinal de catástrofe, quer dizer, de perigo de exclusão total.
José Gil