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Observar o medo

11.09.24

 

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12 de Janeiro

12.01.22

(...) Amar não é sofrer nem se debater no ciúme; é perigoso o amor que destrói, que aniquila as coisas construídas pelo homem, excepto os tijolos. Incapaz de erigir templos ou de reformar a podre sociedade, só por si o amor nada pode fazer; mas, sem ele, nada será feito. A automatização e os computadores podem alterar o rumo dos acontecimentos e proporcionar ao homem mais horas de lazer; e isso só irá aumentar o número de problemas que já o atormentam. O amor não acarreta problemas e é por isso que é tão perigoso amar. O homem vive de problemas, de questões intermináveis e sem solução; sem eles, não saberia o que fazer e sentir-se-ia perdido e lesado. Portanto, os problemas multiplicam-se sem cessar; ao resolver um deles, surge logo um outro e assim sucessivamente até sobrevir-lhe a morte e esta, é claro, a própria destruição; mas isto não é o amor. Com a morte, surge a velhice, a doença e uma série de problemas, que nenhum computador pode resolver. A destruição e a morte que daí advém diferem daquilo que surge com o amor. São meras cinzas de uma chama artificial ou o ruído de máquinas automáticas que funcionam sem parar. Não se pode separar o amor da morte e da criação; é impossível optar por um em detrimento dos outros; não podemos encontrá-lo no mercado ou na igreja, locais em que normalmente supomos consegui-lo. Mas, se não o procurarmos, se formos totalmente livres de problemas, pode ser, então, que desponte o amor.

Krishnamurti, Diário de Krishnamurti

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... Estranho e penetrante silêncio perpassava-nos o ser; isento de qualquer onda de movimento, ao caminharmos, dele fazíamos parte, sentíamos a sua presença a ponto de respirá-lo. Não que aquilo fosse um truque mental, não que o experimentássemos, mas o silêncio simplesmente existia e nós pertencíamos a ele. 0 pensamento apto a experimentar, lembrar, acumular, estava ausente. Não estávamos dele separados para observar e analisar. Era só o que existia, e nada mais. Cronologicamente, o tempo havia passado e já era tarde; o milagre do silêncio estendeu-se por cerca de meia hora, mas isto nada significava, pois o tempo não existia. E foi com ele que retornámos à penumbra do quarto, passando pelo antigo poço, pela aldeia e pela estreita ponte. Juntarnente com o silêncio veio aquela coisa singular e poderosa. O amor não é a palavra nem o sentimento; ele estava lá com a inabalável força e a fragilidade de um broto de árvore, facilmente destrutível. (...)

Krishnamurti, Diário de Krishnamurti

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30 de Dezembro

30.12.21

... o pensamento é incapaz de curar a dor do sofrimento. Apesar dos esforços em racionalizá-lo, a dor não cede jamais. Por ser uma actividade mecânica, o pensar não traz solução a nenhum dos problemas humanos, que são sempre novos e reais. Estranho como o amor, o sofrimento, porém, é um impedimento ao amor. Podemos eliminar o sofrimento, mas não podemos atrair o amor. O sofrimento é autocompaixão, seguida de ansiedade, de medo e do sentimento de culpa; mas, o pensamento é incapaz de libertar-nos de tudo isto, pois ele cria o pensador, gerando o sofrer. Mas, ao libertar-se o homem do passado, finda o sofrimento.

Krishnamurti, Diário de Krishnamurti

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11 de Dezembro

11.12.21

(...)

A experiência, a sensação ou a reacção a qualquer estímulo destrói a lúcida percepção das coisas e a capacidade de compreender. Damos o nome de experiência a uma sensação ou a uma reacção a algum estímulo; qualquer experiência, seja ela mesquinha ou não, engrossa os muros do isolamento. Ainda que útil e até mesmo indispensável no nível prático da vida, o processo de acumular conhecimentos é tão mecânico quanto outro qualquer de fins acumulativos e jamais transcende os limites do tempo. É insaciável o desejo de experiência e de sensação. À sensação de poder, que emana da experiência e a fortalece, torna cruéis os ambiciosos, cuja eficiência os torna também brutais. Mas, não é da experiência que advém a humildade, essência da virtude. E, sem ela, nada se aprende, pois aprender não significa acumular conhecimentos.

(...)

Krishnamurti, Diário de Krishnamurti

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10 de Dezembro

11.12.21

(...)

Nós nos habituamos com qualquer coisa, tanto com o sofrer quanto com a felicidade; se não nos acostumássemos tão facilmente, seríamos mais infelizes e perturbados. Julgamos ser melhor tornar-nos insensíveis e embotados do que termos de enfrentar maiores problemas; é menos doloroso ir morrendo aos poucos. Podemos tentar explicar o fenómeno invocando razões económicas ou psicológicas, mas o facto permanece: tanto os ricos quanto os pobres preferem ir andando, trabalhar no escritório ou na fábrica durante mais de trinta anos e aceitar o tédio e a futitidade de uma vida inútil; temos de viver, dizem, temos responsabilidades e, portanto, é mais seguro aceitar as coisas como são. Nós  acostumamo-nos com o amor, com o medo e com a morte. O hábito se transforma em bondade, em virtude e até mesmo nas fugas e nos deuses. Mas é fútil e estúpida a mente que vive no hábito.

Krishnamurti, Diário de Krishnamurti

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9 de Dezembro

11.12.21

(...)

Qualquer motivo nos impele a agir e não há acção sem motivo; daí sermos destituídos de amor. Tão-pouco existe amor naquilo que fazemos. Pensamos ser impossível agir, viver, existir sem um motivo e com isto a nossa vida passa a ser uma actividade enfadonha e sem sentido. A função é, para nós, um meio de alcançar o status, ou outra coisa qualquer. O amor em si não existe e eis porque é tudo tão falso, tão insignificante, e daí serem terríveis as nossas relações. O apego serve apenas para encobrir o nosso próprio vazio, a nossa solidão e insuficiência interior; da inveja nasce o ódio. O amor é sem motivo e, quando o amor está ausente, toda a sorte de motivos se instalam. É tão simples viver sem motivos; basta ser íntegro, sem jamais se conformar com ideias ou crenças. Ser íntegro é ter autocrítica, é estar consciente de si próprio de momento a momento.

Krishnamurti, Diário de Krishnamurti

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5 de Dezembro

05.12.21

(...)

A meditação nunca é a mesma; nela existe sempre um sopro novo, um novo abalo; ela não visa destruir um determinado padrão, pois não se cogita de um outro padrão ou de um novo hábito para substituir o antigo. Todo o hábito, por mais recente que seja, tem o ranço do velho, pois eles nascem do velho; porém, a meditação não destrói o velho por estar em busca de um padrão mais novo. Ela é o próprio e avassalador efeito do que é original; sem ser o oposto do velho, área que lhe é totalmente desconhecida, a meditação é o próprio aniquilamento. Da sua intrínseca e demolidora acção cria-se o novo.

A meditação não comporta brincadeiras, que sirvam de entretenimento. Pelo contrário, o que existe na meditação é a destruição de todo o brinquedo, das visões, das ideias e das experiências em geral. Precisamos construir as bases da verdadeira meditação, senão ficaremos enredados em inúmeras formas de ilusão. Meditar é negar, sem reagir. Negar e seguir contestando é agir sem motivo, e isto significa amar.

Krishnamurti, Diário de Krishnamurti

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4 de Dezembro

04.12.21

(...) Não podemos perceber o mundo exterior sem sermos impelidos a vagar pelo mundo interior. Na verdade, o externo é o interno e o que está dentro está fora e é quase impossível estabelecer uma distinção entre esses dois universos. Ao olharmos para aquela árvore esplendorosa já não sabíamos quem observava e o que observava e, logo em seguida, o observador deixava de existir. Tudo vibrava tão intensamente que nada mais restava senão a vida, perante a morte definitiva do observador. Já não existia a linha divisória entre a árvore, os pássaros e aquele homem ali sentado sobre aquela terra tão fértil. Lá estava a virtude sem o pensamento e, portanto, ali havia ordem. Sem ser um estado permanente, a virtude vem de momento a momento, e com o sol do entardecer, surgiu aquela bênção tão livre e despreocupada. Com a proximidade da noite, os pássaros se aquietaram e a natureza buscava o recolhimento. Também o cérebro, aquela coisa tão maravilhosa, sensível e vital, tornava-se imóvel, limitando-se a observar, sem reagir, sem fixar, sem gravar, sem experimentar, porém extremamente lúcido e atento. Com aquela coisa abençoada vem a força demolidora do amor. Tudo isto são meras palavras, e, como aquela árvore morta, apenas um símbolo daquilo que foi e que já não existe. A bênção se foi, deixando a palavra para trás; e a palavra morta jamais poderá captar o movimento ágil e fugaz do nada. Mas é daquele vazio que brota a infinita pureza do amor. Como pode o cérebro captar o amor, ele que é tão activo, tão sobrecarregado, tão saturado de saber e de experiência? É preciso negar tudo para que o amor exista.

O hábito, ainda que conveniente, destrói a sensibilidade; com o hábito vem a sensação de segurança, que é uma barreira para a sensibilidade e a lucidez; mas, isto não quer dizer que o estado de insegurança seja sinónimo de plena consciência. É incrível a rapidez com que o hábito se instala, dando origem ao prazer e à dor, bem como ao tédio e àquela coisa estranha chamada lazer. Habituamo-nos a trabalhar durante quarenta anos, após o que buscamos o lazer; ou, ao fim de um dia de trabalho, temos o lazer. Primeiro, é o hábito do trabalho, depois, é a vez do lazer, que também se transforma em hábito. Se não houver sensibilidade, não haverá afecto nem aquela integridade, que não é a reacção condicionada de uma existência contraditória. O hábito origina-se do pensamento, que está sempre em busca de segurança, ou de um estado imperturbável. E é exactamente esta busca de um estado permanente que nega a sensibilidade. A sensibilidade jamais causa sofrimento; este vem das diferentes formas de fuga. Ser sensível é estar plenamente vivo, de onde nasce o amor. Mas, com a sua astúcia, o pensamento ilude o indivíduo que busca, e essa ilusão em si é um pensamento; um pensamento não pode seguir outro pensamento. O que se percebe e vê é o florescimento do pensamento; e tudo aquilo que desabrocha em liberdade tem um fim, morre sem deixar marcas.

Krishnamurti, Diário de Krishnamurti

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3 de Dezembro

03.12.21

(...)

É estranha a importância que se atribui ao dinheiro; todos o valorizam, tanto quem o dá como quem o recebe, seja rico e poderoso, seja pobre e miserável. Ou falamos sem cessar do dinheiro, ou, por educação, evitamos mencioná-lo, sem, no entanto, perdê-lo de vista. Dinheiro para as obras sociais, dinheiro para uma festa, dinheiro para a igreja, ou dinheiro para simplesmente comprar arroz. Mas, tenha você dinheiro ou não, o sofrimento e a aflição existem. O valor de uma pessoa é proporcional ao cargo que exerce, aos certificados que acumula, à sua capacidade profissional, à sua eficiência e ao salário que recebe. E há a inveja do rico e a inveja do pobre, e o espírito de competição motivado pelo desejo de aparecer, de exibir roupas, sabedoria e brilho intelectual. Toda a gente deseja impressionar alguém e, quanto maior a plateia, tanto melhor. Porém, mais importante do que o dinheiro, só o poder. Os dois juntos
formam uma dupla perfeita; ainda que não tenha dinheiro, o santo influi tanto sobre os ricos quanto sobre os pobres. Os políticos aproveitam-se do povo de um país, do santo, dos deuses, de tudo quanto necessário, para vencer e para transmitir aos demais o absurdo da ambição e a brutalidade do poder. Não há limite para o dinheiro nem para o poder; quanto mais possuímos, mais queremos possuir e isto não tem fim. Todavia, nem mesmo todo o dinheiro e poder do mundo eliminam o sofrimento; por mais que você tente escapar dele ou esquecê-lo, ou racionalizá-lo, ele estará sempre lá, como uma ferida profunda e incurável.

Ninguém quer libertar-se do sofrimento, pois é extremamente difícil compreendê-lo; está tudo nos livros e nestes as palavras e as conclusões adquirem primordial importância. Mesmo assim, persiste o sofrimento, ainda que encoberto por ideias. A fuga torna-se, então, de extrema importância; mas, ela é a essência da superficialidade, mesmo se tiver um aspecto de seriedade. É difícil escapar do sofrimento. Para eliminá-lo, temos de atingir-lhe o âmago. Cabe-nos penetrar até o fundo de nós mesmos, desvendando os mais íntimos recessos da nossa consciência. É necessário perceber, sem criticar ou julgar, o mais leve vestígio ou inclinação do astuto pensamento, todo e qualquer sentimento ou determinada reacção. É o mesmo que seguir o curso de um rio até à sua origem; o próprio rio se encarrega de fazê-lo. Cumpre-nos acompanhar todas as pistas conducentes ao âmago do sofrimento. Para isto, basta observar, ver e ouvir, pois tudo está às claras. Precisamos empreender uma longa viagem, não em direção à Lua nem em busca de um deus, mas para dentro de nós mesmos. Ou damos um salto nesta direção e de pronto acabamos com o sofrimento, ou a viagem se tornará mais longa, morosa, fútil e desapaixonada. Enquanto existir a fuga, seremos incapazes de sentir paixão e, sem ela, é impossível acabar com o sofrimento. Surge a paixão quando deixamos de fugir.

Krishnamurti, Diário de Krishnamurti

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