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O passado, o presente e o futuro são apenas um instante aos olhos de Deus, sob cujas vistas deveríamos viver. O tempo e o espaço, a sucessão e a extensão são apenas condições acidentais do pensamento. A imaginação pode transcendê-los, e mais do que isso, no âmbito livre das existências ideais. As coisas serão em sua essência aquilo que desejarmos que elas sejam. Uma coisa existe segundo a forma com que a encaramos. Blake dizia que: “Onde os outros veem apenas o amanhecer surgindo por trás da colina, eu vejo os filhos de Deus gritando de alegria”.
Oscar Wilde, De Profundis
(...) tenho consciência agora de que, por trás de toda a beleza, por mais encantadora que ela possa ser, há sempre um espírito oculto, cujo vulto e contornos pintados são apenas formas de manifestação, e é com esse espírito que eu desejo harmonizar-me. Cansei-me das declarações inteligíveis dos homens e das coisas. Procuro agora o lado místico da Arte, da Vida e da Natureza. É absolutamente necessário que eu o encontre em algum lugar.
Tenho uma estranha nostalgia pelas coisas simples e primitivas, tais como o mar, que é para mim uma mãe tão poderosa quanto a Terra. Parece-me que contemplamos demais a natureza mas convivemos muito pouco com ela. Entendo agora que a atitude dos gregos diante dela era extremamente sadia: eles jamais falavam sobre o crepúsculo ou discutiam o tom que as sombras lançavam sobre a relva. Mas sabiam que o mar fora feito para os nadadores e a areia para os pés dos corredores. Amavam as árvores pelas sombras que elas lançavam e a floresta pelo seu silêncio ao meio-dia. O vinhateiro cobria os cabelos com hera para proteger- se dos raios do sol enquanto se inclinava sobre as plantas tenras, e para os artistas e os atletas, os dois modelos que a Grécia nos legou, eles teciam grinaldas com as folhas do louro e da salsa selvagem que, de outro modo, não teriam qualquer utilidade para o homem.
Chamamos a época em que vivemos de utilitária, mas a verdade é que não sabemos usar praticamente nenhuma das coisas de que dispomos. Esquecemos que a água limpa, o fogo purifica e que a Terra é a mãe de todos nós. Em consequência, a nossa arte é da lua e brinca com as sombras, enquanto que a arte grega é do sol e trata diretamente com as coisas. Tenho certeza de que há pureza nas forças mais elementares e quero voltar a elas e viver na sua presença.
Oscar Wilde, De Profundis
Um homem cujo único objectivo seja tornar-se um membro do parlamento, um bem-sucedido comerciante de secos e molhados, um advogado famoso, um juiz ou qualquer outra coisa igualmente enfadonha, sempre consegue realizá-lo. E esse é o seu castigo: aqueles que sonham com uma máscara são condenados a usá- la.
Mas quando se trata das forças dinâmicas da vida e daqueles que personificam essas forças, tudo se torna mais difícil. As pessoas que desejam apenas atingir a autorrealização jamais sabem para onde estão indo. Nem podem sabê-lo. Num certo sentido, o oráculo tinha razão quando afirmou que o importante é conhecer-se a si mesmo. Essa é a primeira meta do conhecimento. Mas reconhecer que a alma do homem é incognoscível é o objectivo supremo da sabedoria. O mistério final somos nós mesmos. Quando tivermos conseguido pesar o sol na balança e medido os degraus da lua e desenhado o mapa dos sete céus, estrela por estrela, ainda restaremos nós. Quem pode calcular a órbita da própria alma? Quando o filho saiu em busca dos bens de seu pai, ignorava que encontraria um sacerdote à sua espera com a própria crisma da coroação e que a sua alma já era a alma de um rei.
Oscar Wilde, De Profundis