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Para fazeres o que fazes, precisas de caminhar. É a caminhar que te vêm as palavras, que ouves os ritmos das palavras que vais escrevendo mentalmente. Um pé à frente, depois o outro, a batida dupla do teu coração. Dois olhos, dois ouvidos, dois braços, duas pernas, dois pés. Isto, e depois aquilo. Aquilo, e depois isto. A escrita começa no corpo, é a música do corpo, e ainda que as palavras tenham significado, possam às vezes ter significado, é na música que os significados começam. Sentas-te à mesa para escrever fisicamente as palavras, mas na tua cabeça continuas a caminhar, sempre a caminhar, e o que ouves é o ritmo do teu coração, o batimento do teu coração. Mandelstam: «Gostava de saber quantos pares de sandálias gastou Dante enquanto trabalhava na Commedia.» A escrita é uma forma de dança.
Para fazeres o que fazes, precisas de caminhar. É a caminhar que te vêm as palavras, que ouves os ritmos das palavras que vais escrevendo mentalmente. Um pé à frente, depois o outro, a batida dupla do teu coração. Dois olhos, dois ouvidos, dois braços, duas pernas, dois pés. Isto, e depois aquilo. Aquilo, e depois isto. A escrita começa no corpo, é a música do corpo, e ainda que as palavras tenham significado, possam às vezes ter significado, é na música que os significados começam. Sentas-te à mesa para escrever fisicamente as palavras, mas na tua cabeça continuas a caminhar, sempre a caminhar, e o que ouves é o ritmo do teu coração, o batimento do teu coração. Mandelstam: «Gostava de saber quantos pares de sandálias gastou Dante enquanto trabalhava na Commedia.» A escrita é uma forma de dança.
Paul Auster, Diário de Inverno
(...) uma história que alguém te contou sobre James Joyce, Joyce em Paris nos anos vinte, circulando há oitenta e cinco anos por uma festa quando uma mulher se dirigiu a ele e lhe perguntou se podia apertar a mão que escreveu Ulisses. Em vez de lhe estender a mão direita, Joyce ergueu-a no ar, observou-a por momentos e disse: «Permita-me que lhe lembre, minha senhora, que esta mão também já fez outras coisas.»
Paul Auster, Diário de Inverno
Somos todos estranhos para nós próprios, e, se temos alguma noção de quem somos, é só porque vivemos dentro dos olhos dos outros.
Paul Auster, Diário de Inverno
(...) Não há dúvida de que és uma pessoa imperfeita e sofredora, um homem que desde sempre transporta consigo uma chaga (se assim não fosse, por que razão terias passado toda a tua vida adulta a verter palavras de sangue para uma página?), e as recompensas que colhes do álcool e do tabaco são muletas que te mantêm erguido e a caminhar pelo mundo o teu ser aleijado. Automedicação, chama-lhe a tua mulher. Justiça lhe seja feita - ao contrário do que acontecia com a mãe da tua mãe, a tua mulher não quer que tu sejas diferente do que és. Tolera-te as fraquezas e não se zanga contigo nem te censura, e se se preocupa é só porque quer que vivas para sempre. Contas as razões por que a manténs junto a ti há tantos anos, e essa é sem dúvida uma delas, uma das estrelas cintilantes na vasta constelação do amor perene."
Paul Auster, Diário de Inverno