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Procuremos algo que não seja bom só na aparência, mas sólido, constante e tão formoso quanto mais oculto estiver; desenterremo-lo. Ele não está longe: encontrá-lo-emos, basta para tal saber onde estender a mão; agora, como às escuras, passamos ao seu lado, chegando mesmo a chocar com aquilo que desejamos.
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Entretanto, como é consentâneo entre todos os Estóicos, eu vivo de acordo com a natureza; a sabedoria é não nos afastarmos dela e conformarmo-nos à sua lei e ao seu exemplo. Uma vida feliz é aquela que se adequa à sua natureza, a qual só pode ser alcançada se, à partida, a mente estiver sã e em contínua posse da sua sanidade, e por isso corajosa e vigorosa, harmoniosamente paciente, apta para qualquer circunstância, cuidadosa com o que diz respeito ao seu corpo, sem ansiedade demasiada, diligente em relação às outras coisas que constituem a vida sem ter admiração por nenhuma delas, dando uso às dádivas da fortuna sem se tornar serva delas. Compreendes, mesmo que eu não acrescente mais nada, que daí resulta a tranquilidade perpétua, a liberdade, salvos de tudo aquilo que nos irrita e aterroriza; por conseguinte, aos desejos e às seduções, que são mesquinhos e frágeis, e dos quais até o odor é prejudicial, sucede uma imensa alegria, inquebrantável e inalterável; existe então paz e concórdia na alma, e grandeza com mansidão, pois toda a ferocidade procede da fraqueza.
Séneca, A Felicidade e a Tranquilidade da Alma
... ninguém erra apenas por sua conta, mas simultaneamente instiga e dá origem aos erros dos outros; por isso, é prejudicial seguirmos os nossos antecedentes: como cada um prefere crer a julgar, nunca se desenvolvem juízos sobre a vida, acredita-se sempre, e o erro vai passando de mão em mão, fazendo-nos redopiar e cair. Seguindo os exemplos dos outros, pereceremos; curar-nos-emos, se nos separarmos da multidão. De facto, a turba está, hoje em dia, contra a razão, defendendo o seu próprio mal.
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A humanidade não vai tão bem que as melhores coisas agradem à maioria: a opinião da multidão é um indício do que é pior. Procuremos, pois, aquilo que há de melhor para fazer e não o que é mais comum; aquilo que nos coloque na posse da felicidade eterna e não o que é aprovado pelo vulgo, que é o pior intérprete da verdade.
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Vês estes homens, que louvam a eloquência, que se apegam à riqueza, que adulam os favores, que exaltam o poder? Todos eles são inimigos ou, o que acaba por ser igual, poderão vir a sê-lo: quanto mais admiradores, tanto mais invejosos. Porque não procurar antes algo que tenha um proveito realmente bom, que se sinta, e não algo que apenas sirva para a ostentação? Estas coisa que atraem os olhares, perante as quais se pára para observar, que se apontam ao outro com admiração, brilham por fora, mas por dentro são miseráveis.
Séneca, A Felicidade e a Tranquilidade da Alma