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«Oh, que coisa sou... que coisa! (...) Caio sobre os espinhos da vida, sangro. E depois? Caio sobre os espinhos da vida, sangro. E em seguida? Fornico, arranjo uma férias, mas pouco depois caio sobre os mesmos espinhos e sinto regozijo na dor, ou sofro com alegria... quem sabe que confusão é esta?! Há em mim algum bem que perdure? É que entre o nascimento e a morte não há nada a não ser o que consigo descobrir nesta perversidade... na melhor das hipóteses um equilíbrio favorável de emoções caóticas? Não há liberdade? Apenas impulsos? E que acontece à bondade que tenho no meu coração? Não significa nada? Será uma mera brincadeira? Uma falsa esperança que faz um homem conceber a ilusão de que a sua vida tem valor? E por isso continua as suas lutas? Mas esta bondade não é uma falsidade. Sei que não. Juro.»
Saul Bellow, Herzog
A ruína acaba sempre por atingir a beleza. O contínuo espaciotemporal reclama os seus elementos, levando-os pouco a pouco, até que volta o vazio. Mas mais vale o vazio do que o tormento e o tédio de um carácter contumaz, que regressa constantemente às mesmas tolices, que repete as mesmas desgraças. Mas estes instantes de infelicidade e dor poderiam parecer eternos, de maneira que se um homem pudesse captar a eternidade desses momentos dolorosos e dar-lhes um conteúdo diferente, conseguiria realizar uma revolução. E que tal?!
Saul Bellow, Herzog